..:: Abade R. Fatia ::..

e tantas vezes aqui deitado a olhar para o tecto, à espera. Sempre à espera... oiço passados, faço planos envenenado em pensamento, vejo luzes, como árvores, penso em ti, sinto-me alguém na minha cama. A mente é um lugar aleatório

sábado, outubro 30, 2004

Canção sem melodia

Ardes pela torneira...
Grave e sentiiiiiiida!
Um choro gotejante,
Que alaga num instante
A face adormeciiiida.

Gritas em cascata...
Às paredes de cimeeeeento!
Os pássaros não te ouvem,
Há hómens que não dormem
Bebendo o teu lameeeeento!

O chão que tu salpicas...
É terra descuidaaaaada!
De gente importante,
Com livros na estante
E unha bem trataaaaada.

Corres sem a pressa...
De ter que lá voltaaaaar!
A qualquer rio malhado,
Palco desenterrado
De chuva por molhaaaaaar.

Abade R. Fatia

sexta-feira, outubro 29, 2004

Tela

Sonhamos como crianças, ou nunca deixamos de o ser.
Escolhemos um caminho como que por acaso e fazemos coisas, esquecidos dos anões e das sombras.
Um dia também nós vamos aparecer na tela de um palco que não o da vida


Abade R. Fatia

segunda-feira, outubro 25, 2004

Edgar Allan Poe

Still alive... toxicómano fugaz, Abade R Fatia interpreta episódios da vida crivada pela busca de qualquer flor ou mundo por cheirar. Há instantes em que flutua em peers anónimos e deixa reflexos numa tela ladeada de nicks subitamente quietos e debruçados, suspensos da obra-prima dedicada a Edgar Allan Poe


poe
try
o edgar allan poe
é
meu.

Abade R. Fatia

domingo, outubro 24, 2004

O último punk

O último punk
(punk selvagem)
.
vagueias e esperas
na cozinha, sem o rumo,
queres um filho já.
uma razão pra doer.
não te a dão agora
não querem (nem precisam)
do que procuras sem querer
do que queres sem querer
mãe
*

Abade R. Fatia


A amiga da terrinha

Cresceu silvestre nos campos de azeitona e labuta madrugadora.
Filha de gente simples, de batatas cozidas com azeite, pão e meia sardinha por refeição.
Neta de uma nação atrasada, de escolaridade às costas, com pernas sujas do pó camponês, que foram crescendo e engrossando sob o corpo outrora infantil e frágil, agora implacavel e robusto, seios firmes e maduros e um olhar meigo.
Infância crivada de tareias paternais, irmãos rabujentos, cabras e cheiro a leite azedo. Noites estreladas de pulga na cama.
Cartas de amor recebidas em aviões de papel, namoricos precoces, caderno diário às flores, com dedicatórias queridas dos amigos da escola..
Conheço-a emquanto comanda o exército negro num tabuleiro aos quadrados.
Alguns anos depois casa com o rico da cidade mais importante, dá-lhe três filhos e chora todas as noites o choro de mulher.
Para ti *

segunda-feira, outubro 18, 2004

60's

Loucura!!!
Anos 60
respira...
Precious looooooooove!
um sorriso embutido em oiro e diamantes. brilha tanto...
já nem apetece contar as núvens (I sing this song 'cause youuuu
make me feel brand new)

não sei se o tempo terá um só sentido, nem quero pensar nisso.
amas-me?
hmm...

Abade R. Fatia

domingo, outubro 17, 2004

As vozes dos mortos

Oiço fados endurecidos pelo tempo, vejo velhos bêbedos pelas ruas de Lisboa em tempos já gastos, sinto o choro se mulheres antigas com medo de morrer, e fotografias de gente a preto e branco que ri eternamente sem saber porquê.
Projecto-me num futuro onde estarei eu sem cor... e não sorrio, porque é feio mentir.

Abade R. Fatia

sábado, outubro 16, 2004

Copo vazio



- Não sei o que é um camião. Tu sabes?
- Hmmm...
- Pois é isso! É tudo tão vago.
O vazio de um espaço não preenchido acaba por conseguir encher o vácuo de uma ideia.
- É
- A falta de conteúdo não deixa espaço a mais nada que ali queira existir. É um copo vazio. Tem "nada" lá dentro, mas também tem volume, e paredes a envolver.

Abade R. Fatia (in monólogos apagados)

quarta-feira, outubro 13, 2004

A Noite Passada

À luz de uma tarde amarela, gritarias eufóricas, danças loucas, uma multidão inquieta, vontade de viver, um mundo meu. E havias tu ainda desfocada, numa imagem que se iria aperfeiçoar com o tempo.
Cai a noite desprendida de precauções, e somos todos novos para sempre. Viemos de crianças e rimos com tudo.. vontade de beber e rir até chorar..
Vem outra tarde, de cores definidas, com a mesma alegria, a despreocupação de todos os momentos, a multidão inquieta... o mundo já era nosso, e felizes por estar ali. Tu eras já uma fotografia lúcida...
Cai a noite e morremos num calvário de paixão e certezas. talvez a única vez...
Voltam as tardes, morrem as tardes, perdem a clareza e o brilho.. as mesmas multidões de gente e menos euforia.. os sorrisos timidos de quem está cansado... caem as noites pretas, cai o frio e tu não estás, página que se soltou de um livro.. e cessa a vontade de ali ficar.

terça-feira, outubro 12, 2004

Penas de Limão

Voa voa voa voa voa vooooaaaaaa!
Um cinzento nas asas e perco de vista mais uma pomba nesta cidade só.

Constroem-se desenhos de um projecto de vida que desabou perante o vazio do espírito e luz de uma mente apagada.

Protejo-me inseguro entre a altivez dos prédios altos, e a calma de um rio
antigo e demagogo.

Escorro por ruelas estreitas e assisto à contagem do tempo. Sou um pêndulo de relógio numa centenária sala de estar, e bato irremediavelmente as horas sem cura.

Ouvi uma prece...A pomba larga a correr pelo vento deixando-me as penas de que não precisa mais. Estas caem doces, sem uma lógica certa..

Os dias são já meros instantes inconsequentes, monotonamente iguais entre si.

E eu revigoro-me a cada momento em espasmos de veias quentes regadas a limão e heroína, e sangro por mil almas esquecidas, numa escrita ora eufórica, ora destroçada pela consciência de um Universo abstracto demais.

Corro em devaneios linguísticos, morre o espaço à minha volta, canso-me de egos fúteis, não falo com ninguém.

Outras vezes morro por aí, encostado ao pórtico imponente de uma igreja a pensar numa música que não tenha vivido.

Abade R. Fatia

Distorções

You got a minute to pray!
Cavalgo sobre sangue morno, num pónei inválido.
Acelero gravemente sem medo de mim
Gritas.
És tu!
Travo.
Assisto quieto à tua mão... vejo-a ferver numa face universal
podias cantar de novo?
Havia uma história assim...
A lareira apagou-se e há cinza por todo o lado.
Recomeças agora o galope ploff ploff ploff.
hei.. era a tua arma preferida...............
Mas hoje és um retrato volátil, um astro.

Abade R. Fatia

+dope game+

A noite é intrigante.
Hoje passei por uma rapariga. Estava morta, completamente drogada.
Cheirava a medo
Levantou a cabeça e abanou-a num arrepio.
Vi os cabelos pretos desprenderem-se e varrerem-lhe o rosto branco-mórbido.
Pousaram leves na cana do nariz, um instante antes do vento gelado os elevar novamente.

morre tu se kiseres..

Às vezes morro.
Morro eu, morres tu, morremos os dois... Em simultâneo, um de cada vez, em arco, aos ésses, com pudim, vodka-lima, de frente ou de costas. Numa bike a dois, num oceano invisivel, numa Lua entrecortada. Num espaço vazio alugado pelo tempo, numa nota musical, perto da torradeira de alguém, longe da fome, no centro do ego, fantasias em geral.
Morremos azuis, morremos quentes, morremos bonitos. Morremos sem medo, morremos de cócegas, vidrados no sol, com sede de ódio, com ódio de nos termos.
Eu desisti, agora morre tu se quiseres

Abade R. Fatia

Across The Lines

Across the lines!
Who would dare to go?

...
Ao som da Tracy Chupa se rende mais uma noite.
Sim as noites, sempre elas. não se fala noutra coisa. Deixo as manhãs para poetas de meia idade, cansados de se deitar tarde, que redescobriram o gozo de ver um sol incendiar o céu e ouvir os gritos agudos dos pássaros.
Vou-me deitar. amanhã digo-te alguma coisa! vamos ver um filme ou secar ao sol ol ol lol looooooooooooooooooooooool lololollllllllllllllllloooooooooooooooooooooooooooooooolll loll ol ollllllolloolllolll ol o ll ololL lOllOLLLollOLOllllOllOLLoLLoLLOolLoOLloLOLOLloLOLLoloLLOl lllllooooooooooooolllloooooooolollll llOlllllllllllllllllllllOoooooooooooooooooollllllllllllllllllllllll
pode ser?

Abade R. Fatia

barquinho :)

havia um barquinho pequenino e azul, contente a boiar no mar.
sorria a cada onda que passava por ele. levezinho e brincalhão, fazia nascer pequenas ondinhas bebés que saltitavam alegres atrás dele. distraídas, afastavam-se sem querer, em saltinhos até à margem.

Abade R. Fatia

Consultório de Psiquiatria

...E de repente tudo pára.
Por baixo de um majestoso candelabro tenta-se explicar o que não tem correspondência em linguagem. Num quarto forrado a madeira e brilho de verniz. Ele está ali ao fundo.. de mãos cruzadas sob a cara.. tão imperceptível que podia nem estar. E nós deste lado.. No centro de tudo. Do que nós conhecemos, do que existe para nós.. do que existe para além de nós. E bem no centro de nós, há um ego e um caos.