..:: Abade R. Fatia ::..

e tantas vezes aqui deitado a olhar para o tecto, à espera. Sempre à espera... oiço passados, faço planos envenenado em pensamento, vejo luzes, como árvores, penso em ti, sinto-me alguém na minha cama. A mente é um lugar aleatório

domingo, agosto 03, 2008

A uma moeda


Fria e tempestuosa a noite em que zarpei de Montevideu.
Ao dobrar o Cerro,
atirei do mais alto convés
uma moeda que brilhou e se afogou nas águas barrentas,
uma coisa de luz arrebatada pelo vento e pela treva.
Tive a sensação de ter cometido um acto irrevogável,
de acrescentar à história do planeta
duas séries incessantes, paralelas, talvez infinitas:
o meu destino, feito de soçobro, de amor e de vãs vicissitudes
e o daquele disco de metal
que as águas dariam ao suave abismo
ou aos remotos mares que ainda trituram
despojos dos saxões e dos viquingues.
A cada instante do meu sonho ou da minha vigília
corresponde outro da cega moeda.
Por vezes senti remorsos
e outras vezes inveja
de ti, que estás, como nós, no tempo e no seu labirinto
e que não sabes isso.

Jorge Luís Borges

terça-feira, março 11, 2008

transportes

- O que vais fazer agora?
- Agora vou apanhar o metro. Depois apanho o combóio. Depois apanho a vida.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Poste

Tive um amigo no 6º ano que tinha um tio que vivia em Angola. E andava por lá muito bem a fazer os seus disparates... Às tantas um dia foi preso! Ficou preso durante uns anos. E na sua solidão de cela construiu um tabuleiro de xadrez em papel. Para jogar sozinho. Ou com quem o quisesse desafiar. Assim foi evoluindo o seu nível de jogo e ganhando estatuto na cadeia. Ao fim de alguns anos foi por fim libertado. Andava ele cá fora certo dia, quando lhe caíu um poste em cima da cabeça e morreu.

domingo, fevereiro 03, 2008

le rouge et le noir

Este mês poupei 280 euros.
Seria uma pena torrá-los na roleta.
Porém num golpe de suerte podia dobrar pra 560.
Com dois golpes de sorte ia prós 1120.
Com 1120 comprava meio kilo de coca e vendia a retalho.
Dobrava pra 2240.
Depois fazia um MBnet e fodia tudo no bwin.
Mas antes ia mamar um shot ao manecas.
E metia gasosa, mêmo à filme.
Gasosa no bote. tipo.
Depois saía e tava.

- Não dobravas nunca assim de cada vez.

Apostas rouge ou noir, se acertares dobras
Ganhas o que apostaste, sobre o que apostaste
Põem logo as fichas em cima das tuas
Mêmo pa tu veres ali.
Depois esperas um bocado...
Rien ne va plus!
Se quiseres apostas no zero,
É contigo.
E quedas-te a rir
Com os dentes caninos nos outros.

conversas a fio

Bom dia!
Ora cá estamos para mais uma conversa a fio. Na verdade não tenho muito a acrescentar ao que já foi dito anteriormente. Como não preparei o discurso vou ter de improvisar, o que não me parece boa ideia por ser um improviso em cima de nada... É verdade meus amigos: nada. Rigorosamente nada. Não pensei em nada para vos contar hoje. Vim completamente de mãos a abanar, como que a insultar-vos a vocês que se prepararam ávidamente para uma sessão de discussão sobre alguns tópicos interessantes – suponho que o que trazem convosco seja interessante – embora por mim, sendo o mais sincero e transparente que me é possivel, não estou lá muito interessado em ouvir.
Bom e é assim. Já passou meio minuto desde que tomei a palavra e ainda não disse nada. Encho chouriços como quem faz não sei o quê rapidamente e bem. Por vezes é libertador deixar o cérebro repousar como uma casca de banana em cima da mesa.

sábado, fevereiro 02, 2008

fotografia

The ruins of the bridal couch and the overturned chairs bore witness to the frailty of even the best and truest earthly hopes and dreams.

Fyodor Dostoyevsky - A Nasty Story

domingo, janeiro 27, 2008

fotografia

O mais inteligente de todos, na minha opinião, é aquele que se auto-intitula de estúpido, pelo menos uma vez por mês

Fyodor Dostoyevsky - Bobok

segunda-feira, dezembro 31, 2007

Flanqueando-os

Entornou os anjos amolgados
Içando nylons de asas desfeitas
Num agoiro refilante de cores
De céu desocupado por eles todos.

Aquele tear de beijos esquecidos,
Fogaça em algodão prateado,
Era um modelo de alças esventrado
Mordendo o chão, cinzento de enfado.

Dos seus caninos - azedos cristais -
Levitando articulações quebradas
Saem finórios morcegos buçais
Que bebericam as chuvas mansardas.

A Moita

Reflexo em espelhos diurnos
De uma jóvem moita que amanhece
Estende os troncos de sol e acontece
Que oculta dois amantes nocturnos.

Na serena fábrica palpitante
Daqueles fetos-por-vir
E o gemido lancinante
Das agulhas masturbatórias de sentir.

O Cortador de Lenha

Era Gresso, um pobre Gresso
Acordava pelas seis da matina
Bebia o seu expresso
Tinha nome de margarina.

Amava que era um Fastio
E andava cheio de Vigor
O seu amigo mais verdadeiro
Era também um bom Vaqueiro.

Um dia foi à loja do Tó Chiba
Comprar o pente e um
Trocadilho para pôr aqui.

Majorette

Majorette se me amas

O Desflorador

Santos metatásticos com certeza!
Habitam-me por dentro roçando-se
Num tumor de ideias.
Estou prenho! Meu Deus estou prenho!
Acudam-me que vai nascer
E vai berrar! E VAI BERRAR!
O meu gâmbito espontâneo.

Ele, Que Asma Ser


Ele, que asma ser, abtráctil, feudal,
A vós, que entopem, destros e escaldos,
Almeja dar-vos, leves, bastardos
Uma dormência funesta, sem jornal.

Guisado sem regra no assaz terraço.
Por sandalar-vos, sem nó, lacros e lérios.
Que sois epicentros antigos e sérios,
Descalçou-se de réu, fumou-se de laço.


(depois cansado e livre
porque de nada lhe servira...)


Não sei que mais: de aqui para outro nível
Distante.
Forma-se-me um nó na garganta.
Não distanto de saber aquele outro.
Pois nivelei lá, mais do que aqui
Sempre em forma de outrar,
Formando gargantas a outrém
Num desapego à distância
Sempre aqui, sempre além.

Éóó-éóó! Éóó-éóó!
Se pensares bem
Éóó-éóó!! Se vires bem.
Mendigos de mim.
Éó.
Não vos desapontando, desaponto-me.

Mas afinal de contas de quem é a MINHA custódia?
Mas mas
De contas afinal de
Quem é a
MINHA de contas afinal
Custódia de
Afinal quem é
A MINHA de contas afinal
Custódia de a final
É de a
Final de
Com
Tasde a fi
Nalmi

Plebeu!
Só me resta dizer plebeu.