Espaço Antigo
O espaço antigo é um lugar sentado
no meio do salão de vitral bem engomado.
cheio de colares facetados
que berram luz nas saliências da parede
que é creme,
talvez gasta.
Chegam à noite aquelas cantigas de rua
que varreram a infância.
voltam de longe e demoram-se lá adiante,
junto da fogueira a preto e branco
que lhes compus entretanto.
mas hoje dexei-me crescer e ganhei-lhes vergonha
a ponto de me esgueirar para dentro
e deixar para trás o gesto de quem as trauteia
com breves tremores de lábio.
Deito-me com mais alguém
no tecido rugoso, de cor leve,
onde fiquei da última vez.
atrás de mim adensam os contornos sensuais
que conheço de cór.
misturam-se na carpete esparsa,
à superfície da qual se podem ouvir
as brisas de um suspiro de loucura,
algumas histórias e pedaços de pó...
Toca-me levezinho nas costas
e:
ou é um homenzinho que anda perdido
ou é caligrafia torta.