..:: Abade R. Fatia ::..

e tantas vezes aqui deitado a olhar para o tecto, à espera. Sempre à espera... oiço passados, faço planos envenenado em pensamento, vejo luzes, como árvores, penso em ti, sinto-me alguém na minha cama. A mente é um lugar aleatório

terça-feira, agosto 30, 2005

Ridiculo Surrealismo

Tu voas sobre o mar
Num pequeno e morno Domingo
Com os sapatos espelhados
Que escolheste antes da luz.
Passaram os dias de jejum, onde pastavam
Algumas aves de sangue latino
E ferviam lebres reguilas.
A desordem nao arde
sem que chames por ela
chama-a ontém
chama de uma vela

Abade R. Fatia

Bocados

passarinho que voavas distraído
deixaste cair
um pedacinho de ti.

dedicatória ao Mundo
Abade R. Fatia

quinta-feira, agosto 25, 2005

Crepes Salgados

Enfeitaste o jantar.
Passaste o tempo a uivá-los
Eram pequenos e pobres vassálos
Escolhi os melhores pra te dar.

Enfeitaste o jantar.
Tinham cor azúl de marfim
Sabiam a névoa de Pequim
E eram bons de mastigar.

Ousaste cortá-los ao meio
E num cuspiste sangue frio
Com a saliva que não veio
No olhar que não se abriu

Já o outro, doce endiabrado,
Recheado de rubi,
Era cúmplice do empregado
Por pouco não fugiu dali...

Regorgitei uma reza feia
Em tom vil, mal-humurado
Mergulhámos em apeneia
Num jantar amaldiçoado.

Enfeitaste o jantar!
Deste-me a mão no fundo do prato
Escrevi-te então num guardanapo
Escolhi o melhor para te dar.

:)

para a Madalena

segunda-feira, agosto 01, 2005

Myiu - chapter III

Apeou-se com dois sacos de super-mercado cheios de alface, cenouras e alho francês, e uma mala grande que a acompanhava para todo o lado, onde guardava cuidadosamente a roupa que escolhera para o seu funeral.

Ao som do apito, voltou-se para o combóio, e encarou Myiu pela última vez. Este acenava sorridente por trás da janela.
As lágrimas varreram-lhe o rosto até ao queixo, de onde se desprendiam e se lançavam numa queda desenfriada até ao chão.
Myiu sorria muito do outro lado...

Ao ritmo lento da marcha do combóio, mais lágrimas jorraram dos pequenos olhos da velhota, enquanto Myiu partia, e com ele um sorriso.
Myiu não parou de sorrir até deixar de se ver...
Já o combóio dobrava a curva lá ao fundo, virou as costas à linha, pegou nos sacos e foi para casa. A sua casa ficava a cerca de 1,5 Km dali, e não valia a pena pagar um taxi.

Caminhou longos minutos debaixo do sol escaldante das três da tarde. Caminhou só.
Os sacos pesavam-lhe cada vez mais nos braços e andava devagar.
A última lágrima secava rapidamente na sua face e deu lugar a uma gota de suor que deslizou até ao queixo e se desprendeu, lançando-se numa queda desenfriada até ao chão.