Penas de Limão
Voa voa voa voa voa vooooaaaaaa!
Um cinzento nas asas e perco de vista mais uma pomba nesta cidade só.
Constroem-se desenhos de um projecto de vida que desabou perante o vazio do espírito e luz de uma mente apagada.
Protejo-me inseguro entre a altivez dos prédios altos, e a calma de um rio
antigo e demagogo.
Escorro por ruelas estreitas e assisto à contagem do tempo. Sou um pêndulo de relógio numa centenária sala de estar, e bato irremediavelmente as horas sem cura.
Ouvi uma prece...A pomba larga a correr pelo vento deixando-me as penas de que não precisa mais. Estas caem doces, sem uma lógica certa..
Os dias são já meros instantes inconsequentes, monotonamente iguais entre si.
E eu revigoro-me a cada momento em espasmos de veias quentes regadas a limão e heroína, e sangro por mil almas esquecidas, numa escrita ora eufórica, ora destroçada pela consciência de um Universo abstracto demais.
Corro em devaneios linguísticos, morre o espaço à minha volta, canso-me de egos fúteis, não falo com ninguém.
Outras vezes morro por aí, encostado ao pórtico imponente de uma igreja a pensar numa música que não tenha vivido.
Abade R. Fatia
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