..:: Abade R. Fatia ::..

e tantas vezes aqui deitado a olhar para o tecto, à espera. Sempre à espera... oiço passados, faço planos envenenado em pensamento, vejo luzes, como árvores, penso em ti, sinto-me alguém na minha cama. A mente é um lugar aleatório

terça-feira, outubro 12, 2004

Penas de Limão

Voa voa voa voa voa vooooaaaaaa!
Um cinzento nas asas e perco de vista mais uma pomba nesta cidade só.

Constroem-se desenhos de um projecto de vida que desabou perante o vazio do espírito e luz de uma mente apagada.

Protejo-me inseguro entre a altivez dos prédios altos, e a calma de um rio
antigo e demagogo.

Escorro por ruelas estreitas e assisto à contagem do tempo. Sou um pêndulo de relógio numa centenária sala de estar, e bato irremediavelmente as horas sem cura.

Ouvi uma prece...A pomba larga a correr pelo vento deixando-me as penas de que não precisa mais. Estas caem doces, sem uma lógica certa..

Os dias são já meros instantes inconsequentes, monotonamente iguais entre si.

E eu revigoro-me a cada momento em espasmos de veias quentes regadas a limão e heroína, e sangro por mil almas esquecidas, numa escrita ora eufórica, ora destroçada pela consciência de um Universo abstracto demais.

Corro em devaneios linguísticos, morre o espaço à minha volta, canso-me de egos fúteis, não falo com ninguém.

Outras vezes morro por aí, encostado ao pórtico imponente de uma igreja a pensar numa música que não tenha vivido.

Abade R. Fatia