..:: Abade R. Fatia ::..

e tantas vezes aqui deitado a olhar para o tecto, à espera. Sempre à espera... oiço passados, faço planos envenenado em pensamento, vejo luzes, como árvores, penso em ti, sinto-me alguém na minha cama. A mente é um lugar aleatório

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Movimento Imperceptível da Bolacha

Não me sinto bem.
Estou acordado há horas, às dentadas.
La laii lah lai laaaa
Oiço as vibrações crispadas de cordas instrumentais
Que estão afinadas em cadência.

Hoje é demasiado!

Volto do ponto de fuga,
Lugar num sofá diante deles
Onde o sentido não é lógica.

Venho revoltar a matéria
Porque matéria viva, refulge nos pátios.
Agora antes da morgue desinfecta-se o ser!
E dói.

Canta baixinho, dentro do túnel
E vibra...
A minha vida é um diamante por polir
Eu sou artesão
Mas dói-me a mão.

Tenho andado concentrado em ponteiros de relógio.
Lanço o olhar e espero...
Vejo a construção metódica do tempo
tic tac tic tac tic tac
Bato com as pontas dos dedos na cara
Por fim canso-me e desapareço.
Esgueirando-me por vielas cerebrais

Sou fugidío
Refugio-me aqui e ali, antes da aurora.
O Tejo corre aflito por baixo de mim!
Sente-se culpado

Eu sou antiquado.
Meço os dias com esquadro.
Dou a quem entendo
E a muitos entendo que devo dar,
Enquanto me balanceio.

Também sou de corda!

É metal brilhante, contínuo e denso
Interminável e sem sentido
É assim o meu espírito.
Nasce e vagueia em parques da saudade
no meio dos gritos e espasmos loucos.
Sou um mar.

Tenho estas vendas nos dedos
Que me impedem de escrever o que vejo.
Mas também tenho vontade de tudo...

Há os dias em que adormeço no banho
De água a ferver
Por cada expiração que dou
Todo o Universo colapsa
E geme baixinho em espasmos de prazer.
Sou o Teu jardim, o Teu cristal
Sou o Teu sonho a respirar

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

sim eu sei


17 Fevereiro 2006

Férias entre semestres. A coisinha disse adeus. Eu pus-me a ouvir Vitor Espadinha – Recordar é Viver... e a improvisar.

Um frasco
fiasco...
et voilá: disseste-me adeus.
recordar, que é viver, é esquecer
-me
do que há além da nesga difusa
de uma seringa endiabrada
numa noite antiga.

excerto do "Guia Prático da Minha Vida"
Abade R. Fatia

terça-feira, fevereiro 14, 2006

vantagem de ser como eu


Este blog assusta-me.
Há dias em que me preparo para verter as últimas gotas acumuladas. Medito dez a doze minutos, mastigo umas sílabas, dou uns pulinhos para aquecer e lá vou eu.
Mas assim que dou com este fundo branco onde se escreve, afloram os pensamentos de inerteza quântica, e já só tenho vontade de não fazer sentido nenhum.
Depois caio no mais fácil: ponho um qualquer hit em loop com som elevado para não ter de ouvir mais a entidade racional e desato a debitar ideias soltas numa amálgama de frases e letras aleatórias.
Termino quando me apetece. Tento apenas acabar, ou com um inesperado choque electrizante, ou com algo que "rime" com o que disse acima, dando a ilusão de que afinal tudo estava pensado e intimanente ligado. Tcharannn!
É isto a arte de fingir. Ou pensando melhor, de artístico tem muito pouco, mas o fingir está lá... "O poeta é um fingidor" mas o recíproco raramente se verifica.
Porém algo me guia no meio de tudo isto. O medo de sofismos fáceis é um dos moderadores e, actualmente, leva-me a achar este, mais um texto pretensioso.
Assim urge uma vontade de baloiçar.
O receio de cair no ridiculo do racionalismo exagerado, leva-me a complicar a escrita com o intuito de me auto-confundir (e nao a quem lê, embora uma coisa leve à outra) e desta forma aliviar a tensão recém estabelecida. Este complicar, que pouco tem de complicado, surge sob a forma de ideias soltas, carimbadas rapidamente umas atrás das outras, não dando tempo sequer de serem assimiladas nem por mim, nem por ninguém!
Daí a ideia de baloiçar.
Há, no entando uma ou outra palvra importante no meio de tudo isto. São estas palavras que vão marcar características no desenho e, no fundo, toda a contenda. Sem essas palabras, a coisa perdia a sua identidade. Não se trata, porém, de palavras exóticas soltas! São conjuntos de três ou quatro palavrinhas mágicamente interligadas numa ideia invulgar e inesperada. E é com elas que fazemos o retrato mental do texto. É na sua ideia subjacente que pensamos quando falamos sobre o acontecimento. E noto que raramente se tratam das palavrinhas do título...
A falta de ideias normalmente precipita uma história para o seu final.
E há uns mais desajeitados que outros.

domingo, fevereiro 12, 2006

Horóscopo


Eu vou morrer assassinado.