Ode Caótica
teatro demente, macacóide, com amor debaixo dos pés
daquele teatro que se pedires, ele voa!
sao agoiros sujos que remato
em fim de noite caótica
cuspo e sangue mal lavados
freio de árvore neurótica
há um dia para acreditar
num improviso metafísico
de quem não se quer ir deitar
sob o lençol de um tísico
dá-me pantufas, alegre mancebo
verte-me chão e moinhos
pretendo verde, amarelo e acordar cedo
quero beber eternos ventos e vinhos
estando só
mal acolchoado
entro de trenó
em céu queimado
nasço pulgas, colho rebentos
sou a fímbria do destaque
ataco como fungos selvagens momentos
sou o sopro que morre num baque
atordoa-me porém
noite doninha leve
vives alegre tu também
vives mais por quem te deve
espasmódico retinir da palavra
na estante coberta de livro
é a terra que ninguem lavra
é desta que não me livro
é um canto, espanto, encanto
que consagro a jovens seguidores
alegrem-se, beijem-se, escolham o pranto
e refuljam os dias nas veias de violadores
O Apelo
Vamos ser um pouco mais surrealistas do que há pouco
vamos largar a rima inquisidora
que nos censura a mao a lápis
e acorrenta a vontade ao laço de um sinónimo fonético
queremos liberdade
não sabendo
ainda
o que fazer com ela!!
aqui a exclamação é demasiada, prepotente
não gosto de ofensas verbais em pontos exclamatóinos
uso de neologismo adensa a atmosfera
teatro surreal
aqui há luz para todos
entre quem quiser!
é o circo da letra azul, palavra cortada a machado
o preço pouco vale
tudo o que tem preço nao tem qualquer valor
vocabulos nietzschianos intemporais
(intervalo para descançar os dedos vagabundos)
...
Retoma do trabalho. o almoço fora breve na aldeia muscular
o dedo ja comeu demasiado, encheu uma barriga de costumes francos
cresce agora como que um rumor vermelho
será sangue? ou oxigénio mal distribuido
a forma tubular ostenta mais vida que a razão descodifica
Saque...
tudo a saque
o mundo espera por mais
mas só damos quanto temos, se quisermos
ouvem-se preces desmistificadas, cortam-se pulsos no desespero
de quem ficou para tras
num quarto a ferver de fraca luz
sem sandálias para mais dinheiro
carne de porco enjoada
quero menos do que estar a infernizar-me dentro desta chama
de repasto dionísico
trazei-me Baco e seus alegres manjares
auscultai-me o coração
que não pede
que não raspa
que.
Cedo
é cedo e com sede sudomizo-te
sob a sebe que sabe sobre tudo
o que é soberbo, sabendo que seborreia e sebo
não se construiram num só biombo
japonês, de face cristalizada ao luar romântico
de verniz doce lilaz, sem a pálpebra intemporal
da palavra que sai leve e doce
qual mel libertino
escorrega pela manção mental
não te sentes ir?
e flui, é viscoso.
Portanto
às tantas da noite tocam The Beatles, e livreiras bem dispostas
de cantares escondidos que brincavam em pequenos
também eu fui pequeno brincalhão
também eu pequenava cantando sem medo da brincadeira de um escaravelho que velou a noite disposta em estante sem livro de eu
Soásticas
soásticas palavras surrealistas, ridiculas
dir-se-ia que querem ser maiores
dir-se-ia junto do céu encoberto pelo Encoberto que nos traz a Mensagem
Mensageiro grande gigante atroz fervente mundo pessoano
ribalta do papel
chumbaste-nos a escrita para sempre
com tratados dispostos em conjunto
mal sabiamos que iria ser assim
ter-te-iamos trancado as portas do Martinho da Arcada
trazer-te-iamos a lei seca
enciclopédias de atrocidades, não para ti,
desta vez para outros piores do que tu
em tantos anos te dissolveste
Fogão
arde, lento azul, o vale crepitante
soa a croquetes bem passado
traz o sabor da chuva e ouve-se algo mais do lado de lá
não é espelho não senhor
outras obras merecem apreço
outros cantares de olhos tristes souberam o que é uma cesta de vime
enfeitada de colares persas, para serem bonitos
mas lavados com o tabaco de quem os comeu em sangue
de gengivas escurbuteadas
rasgos de pele
Crença
a perseguir um final
exaspero por um
crispo nas ondas mentais de quem nao sabe mais escrever
lerdo, aferrolho-me à ideia
de que um final
não tem forçosamente que terminar
Abade R. Fatia