..:: Abade R. Fatia ::..

e tantas vezes aqui deitado a olhar para o tecto, à espera. Sempre à espera... oiço passados, faço planos envenenado em pensamento, vejo luzes, como árvores, penso em ti, sinto-me alguém na minha cama. A mente é um lugar aleatório

terça-feira, outubro 09, 2007

zebra riscada

Os piropos que ouvia quando ia a casa almoçar, vindos lá de cima do andáime do prédio da melhor amiga do 8º ano. Enquanto o rabo gelatinava com o baque dos pés no chão, as faces ruborizavam ao ritmo acelerado dos assobios cruzados. E refugiava-se da selvajaria em casa. A sua casa era de tijolo vermelho e segura.

O leopardo ia lá todos os dias à janela lamber-lhe o focinho, e depois vinha-se embora devagar. Não tinha nada para fazer e não tinha medo da rua.

Ela sim. tinha os planos de vida das zebras estabelecidas: aprender estrangeiro, tirar um curso e ir para o estrangeiro, falar estrangeiro com os estrangeiros. Aprender as coisas dos estrangeiros e enviar postais em estrangeiro. Até um dia trazer o estrangeiro para casa.

Era o sonho dela ou dos progenitores. Nunca me chegou a contar.
Às vezes penso nessa zebra riscada e nos gorilas das obras.

Os gorilas fazem parte da nossa vida. Mas ao contrário de nós, que vamos acabando por morrer, eles sempre existiram e existirão Geração após geração, gorilas em cima dos prédios bebendo cerveja, a desenhar o rabo das zebras num assobio. Enquanto rebocam paredes e erguem torres e cidades, onde as zebras se resguardam dos dentes alvoroçados das hienas.