..:: Abade R. Fatia ::..

e tantas vezes aqui deitado a olhar para o tecto, à espera. Sempre à espera... oiço passados, faço planos envenenado em pensamento, vejo luzes, como árvores, penso em ti, sinto-me alguém na minha cama. A mente é um lugar aleatório

domingo, dezembro 23, 2007

Canto de Rua

O que é isto? Que me faz pensar e ser assim? O que está por trás disto que eu sou? E me faz assim, repleto de sonhos e fobias. O que me faz menos genial que os grandes génios da história, o que me faz querer ser como eles. O que me faz querer ser maior que eles. O que me deprime por pensar que não lhes chego aos calcanhares. O que me deixa inseguro no amor. O que me torna hipersensivel à morte, à saudade e à música. O que me impede de compreender a música. O que me pensa brilhante e me faz mediocre.
Por momentos deixo toda a negatividade tomar conta de mim. Desce-me do cérebro e ocupa-me os olhos e a boca. Transforma-me as feições e fico feio. Isto que me permite ouvir a música e ficar só a sentir(-me). Sentir o universo infinito, sentir as dúvidas que me assolam. Sentir a aura dos outros, dos que foram grandes. Para quê esta sede de grandeza? Eu admiro tanto a simplicidade. Eu que gostava tanto de ser simples e ao mesmo tempo complexo. Eu que vejo virtudes em ambos e em todo o lado e em todas as coisas. O que sou eu que não me defino?
Um observador? Que bonitos são os observadores! Que falam das pessoas e dos acontecimentos com aquela distância lúcida. Analisam os prós e os contras de cada gesto. Que sabem situar esse gesto no seu contexto socio-cultural, compreendê-lo e atribuir-lhe mérito (proponho aqui um novo verbo à lingua portuguesa: “meritar”) e acima de tudo sabê-lo relativizar e opinar sobre alternativas melhores.
Mas que papel activo tomam na sociedade os observadores da sociedade? Eu queria tanto ter um papel vincado. Que muita gente falasse (maioritariamente bem) das minhas escolhas na vida, das minhas frases proferidas enquadradas nos melhores contextos. Como poderei eu ser personagem disto com papel activo e ainda assim esperar lucidez dos meus actos e ditos? Um “actor” diz o que lhe vai na alma, independentemente do credo da sociedade. Esse “actor” encarna um papel, uma filosofia e é coerente consigo. Essa filosofia terá certamente consequencias negativas (defeitos) nesta ou noutra sociedade, mas é o seu papel, e ele leva-o ao extremo. E é, por isso, a personagem de que todos se lembram e com quem todos podem contar naquele âmbito de coerência.
Coerência. Principalmente coerência.
Eu quero ser razoável. Aliás: eu quero ser admirado. Quer por mim, quer por uma minoria a que eu chamo de intelectualidade. Talvez por presunção minha, mas sobretudo (e na minha maior honestidade) porque alcanço exactamente o que se passa nesse contexto.

(lost context)

Aquela noite na “maré”. Um cigarro e uma barraca de madeira e lã em cima do mar, e barcos, muitos barcos. Quanta poética há nos barcos e que eu ignorei naquele momento, onde os meus melhores amigos e um cigarro me preenchiam a vida?
Zunzuns incertos.
Um papel na sociedade, na forma como eu o compreendo, consiste em dizer/fazer isto ou aquilo, certo ou errado, com a maior convicção. E conseguir convencer os mais fracos - ou a elite que compreende – acerca da veracidade/crueza/poética/consistência das suas palavras/acções. Ponto final.
Mais. Há mais para além de mim.
Ainda tenho um amor extraordinário por ti – Anabelle Lee. Ainda hoje, que já te não vejo (e começo a escrever assim) há mais de dois meses.
Hoje vi e revi fotografias tuas. Há qualquer coisa no teu olhar que coincide com o meu. É o olhar que tenho quando sei exactamente o que sou e o que quero, e é o olhar lúcido dos que são como eu e pertecem ao meu universo - do qual tu fazes parte certamente. Do qual eu às vezes me parece que não faça parte por desvios meus, ou que tu não faças parte por insegurança minha.
É neste momento, cheio de sinceridade frieza e lucidez, amor o que sinto por ti.
Eu amo o que tu és.

2 Comments:

  • At 5:14 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    "Ainda hoje, que já te não vejo (e começo a escrever assim)" Perdoa-me, amigo que almeja um papel, por me ver forçado, devido à força do mesmo, a destacar de toda esta importante monografia um grande lol subjacente a esta passagem. :D

     
  • At 5:22 da tarde, Anonymous Anónimo said…

    lola-te praí seu judas!

     

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