..:: Abade R. Fatia ::..

e tantas vezes aqui deitado a olhar para o tecto, à espera. Sempre à espera... oiço passados, faço planos envenenado em pensamento, vejo luzes, como árvores, penso em ti, sinto-me alguém na minha cama. A mente é um lugar aleatório

domingo, julho 17, 2005

Myiu - chapter I

Calou-se a bruma ociosa por detrás do desatino de Myiu.

O combóio já vinha bastante atrasado, e um pardal jazia semi desintegrado na linha, já sem a bagagem, esquecido das horas. Seria o final da linha? Talvez a conclusão lógica de um suicídio bem planeado.

Desprendeu-se uma brisa desconfortavel no cimo dos montes serranos. Myiu tiniu de frio e abotoou o casaco, consciente do momento, e enquanto isso, debruçou o olhar desatento sobre um pássaro pousado inerte no paralelo mais distante de uma linha que não acabava ali, em seu entender..

O guarda Vilar assumou-se ao postigo por breves instantes, e deu a derradeira passa no cigarro antes de o lançar à aleatoriedade da brisa, que agora corria veloz e desesperada, junto da linha.

- E então miudo!

O som das palavras dissipou-se tão depressa como tinha surgido, levado pelo vento ao longo da linha, percorrendo-a e ricocheteando-a ao longo de vários metros.

Myiu voltou a cabeça e esboçou um sorriso descomplexado, embora desalentado com o atraso do corpo férreo que viria a qualquer instante.
A beata rodopiou no chão e rolou até junto do sapato do rapaz

Myiu olhou
O vento desferiu um golpe ondulatório e desnudou o pássaro de forma agreste
O guarda teve uma convulsão
Myiu olhou...
Do lado dos montes chegam os sons destemidos de ferro e aço num galope determinado

A estação ficava agora irremediavelmente mais cedo, e um pardal consentiu mais uma morte.

Myiu…